Conheça a história de Pai Joaquim…
Naquela noite de gira no terreiro, o ambiente estava mais sereno que o habitual.
O cheiro suave de ervas queimando no congá preenchia o ar, enquanto os médiuns aguardavam, com os corações abertos, a chegada das entidades.
Era a vez dos Pretos Velhos. Ao som dos atabaques e cânticos, Pai Joaquim, uma entidade muito querida na casa, manifestou-se com a tranquilidade que lhe era habitual.
Com os passos lentos e firmes, apoiando-se em seu velho cajado, Pai Joaquim caminhou até o meio do terreiro.
Suas costas encurvadas pelo tempo e os olhos brilhando com uma sabedoria ancestral contrastavam com sua postura humilde. Todos aguardavam a História de Pai Joaquim
Ele acendeu o cachimbo, inspirou profundamente e, ao soltar a fumaça, seus olhos passearam por todos à sua volta, como se estivesse enxergando cada alma ali presente.
— Saravá, meus filhos — saudou com a voz rouca e pausada. — Hoje vim contar um causo que vivi, para que vocês levem consigo um pouco da sabedoria que o tempo me deu.
Os médiuns e assistentes se aproximaram, sentindo que algo especial estava por vir, eles adoravam ouvir a história de Pai Joaquim, pois sempre vinham com um ensinamento profundo…
— Em meus tempos na Terra, eu era um simples escravo.
A labuta era dura, e o tratamento mais duro ainda. Muitos de nós não tínhamos nome, apenas número.
A fome e o frio eram nossos companheiros, mas o espírito, ah… o espírito era mais forte que qualquer corrente. Mesmo diante de tanto sofrimento, eu aprendi a ser paciente, a esperar o tempo certo de cada coisa.
Ele deu mais uma tragada em seu cachimbo e prosseguiu.
— Certo dia, depois de uma colheita longa, um de meus companheiros de cativeiro se revoltou. Ele estava cansado da humilhação, da fome, do desprezo.
“Por que devemos ser humildes, Pai Joaquim?”, ele me perguntou, com os olhos cheios de ódio. Eu olhei pra ele e respondi: “Porque a humildade é a força que ninguém pode tirar de nós. O senhor pode nos tirar a comida, a liberdade, mas nossa dignidade, essa é nossa e de mais ninguém”.
As palavras de Pai Joaquim ecoavam no terreiro, e todos prestavam atenção a cada detalhe da história. Ele continuou:
— Passou-se o tempo, e aquele companheiro perdeu a paciência. Tentou lutar com as mãos cheias de raiva, mas acabou preso e machucado.
Foi aí que ele entendeu que a paciência e a humildade não são fraquezas, mas sim forças que nos permitem enxergar além do sofrimento imediato.
A paciência nos ensina a esperar a hora certa, e a humildade nos ensina a ser fortes, mesmo quando parecemos fracos.
Os olhos de Pai Joaquim brilhavam com emoção, e ele sorriu com o canto da boca.
— Mais tarde, quando consegui minha alforria, escolhi não guardar rancor. Preferi dedicar meus dias a ajudar outros que sofriam, assim como eu sofri um dia.
Foi na caridade que encontrei minha verdadeira liberdade.
Quando estendemos a mão a quem precisa, sem esperar nada em troca, a gente cresce, meu filho. A gente se ilumina.
Ele olhou para os filhos de santo que o rodeavam e concluiu:
— A vida é feita de escolhas. Podemos escolher reagir com raiva ou podemos escolher a humildade. Podemos escolher a pressa ou a paciência. Podemos escolher o egoísmo ou a caridade. O que nos faz grandes não é o que temos, mas o que somos. E no fim, o que levamos dessa vida não são as coisas que acumulamos, mas o bem que fazemos.
O terreiro estava em silêncio absoluto, enquanto Pai Joaquim dava mais uma tragada em seu cachimbo. Ele traçou um ponto riscado no chão com sua pemba, finalizando com uma bênção poderosa de proteção.
— Que Ogum abra seus caminhos, que Oxum abençoe seus corações e que Oxalá os cubra de paz. Saravá, meus filhos!
Com isso, Pai Joaquim despediu-se, deixando o terreiro com uma lição que seria lembrada por muito tempo: a verdadeira força vem da humildade, a sabedoria vem da paciência e a grandeza está na caridade.
Conclusão da História de Pai Joaquim
A história de Pai Joaquim nos lembra que, na caminhada espiritual, o que verdadeiramente importa são nossas atitudes diante das dificuldades.
A humildade nos fortalece, a paciência nos guia, e a caridade nos eleva.
Lembre-se, a história de Pai Joaquim é o presente de muitos filhos….
Que possamos sempre trilhar esse caminho com sabedoria. Saravá!