Orixá EXU
Exu é o orixá da comunicação e da linguagem: assim, atua como mensageiro entre os seres humanos e as divindades, (dentre outras muitas atribuições). É cultuado no continente africano pelo povo iorubá, bem como em cultos afro-descendentes, como no candomblé baiano, no tambor de mina maranhense, dentre outros. Apesar do nome idêntico, não deve ser confundido com os exus da Umbanda (também chamados “exus catiços”), que possuem cosmologia diferente.
Brasil
No Brasil, Exu é percebido como um orixá de múltiplos e contraditórios aspectos, o que torna difícil defini-lo de maneira coerente.No candomblé, Exu é o orixá mensageiro, um ser intermediário entre seres humanos e divindades: por essa razão, nada se faz sem ele e sem que oferendas lhe sejam feitas antes e qualquer outro orixá.
No Brasil, Exu é muito conhecido como o “orixá do lado de fora”, como guardião da parte exterior templos, das casas, das cidades e das pessoas. Também está intimamente ligado aos caminhos e, especialmente, às encruzilhadas.
Exu também está ligado à sexualidade e fertilidade masculinas. O caráter sexual de Exu é menos pronunciado do que o de Legba (vodun daomeano com características e atribuições semelhantes), mas suas estatuetas mais antigas apresentam caráter fálico muito acentuado.
Na nação angola, Exu recebe o nome de Aluvaiá ou Pambu Njila. No candomblé jeje é chamado Legba.
Arquétipo
A ambivalência é a marca registrada da personalidade de Exu no Brasil. É visto como o mais humano dos orixás: nem completamente mau, nem completamente bom. Possui caráter irascível, astucioso, grosseiro, vaidoso, indecente e que gosta de suscitar dissensões e disputas quando não devidamente propiciado.
Os filhos de Exu são pessoas que possuem personalidade e caráter ambíguos, não obedecendo aos conceitos que a sociedade aceita como normais. São vistos como matreiros, brincalhões, moleques, animados, espertos e de pensamento ágil. Às vezes tornam-se insolentes e desrespeitosos, porque não ligam para as convenções sociais.
Generalidades do orixá Exu
O culto de Exu no Brasil apresenta as seguintes características gerais;
- Dia da semana: segunda-feira.
- Elementos: fogo ou terra;
- Símbolo: ogó (bastão de madeira em formato fálico);
- Cores: vermelho e preto.
- Bichos: cabritos, galos, preás, igbin;
- Saudação: Laroiê
Demonização do orixá Exu
Na África na época da colonização europeia, ainda no século 16, o Exu foi sincretizado erroneamente com o diabo cristão pelos colonizadores, devido ao seu estilo irreverente, brincalhão e à forma como é representado no culto africano. Por ser provocador, indecente, astucioso e sensual, é comumente confundido com a figura de Satanás, o que é um equívoco, de acordo com a construção teológica iorubá, posto que não está em oposição a Deus, muito menos é considerado uma personificação do mal.
Mesmo porque, nessa religião, não existem diabos ou entidades encarregadas única e exclusivamente de coisas ruins, como ocorre no cristianismo, segundo o qual tudo o que acontece de errado é culpa de um único ser que foi expulso por Deus. Na mitologia yoruba, porém, assim como no candomblé, cada uma das Divindades (Orixás) tem sua porção positiva e negativa assim como o próprio ser humano.
“Sobre o Òrìṣà Èṣù(Orixá Exu), além de suas atribuições mais conhecidas, embrenhamo-nos em uma de suas mais complexas e poderosas qualidades – como O Guardião do Àṣẹ – que, recebendo a réplica desta força neutra de Olódùmarè (Fálàdé, 1998, p. 494), coloca-a à disposição de todos, seja para os homens ou para os Òrìṣà, confirmando que Èṣù de mal …., nada tem …,mas ao contrário, apenas age com justiça. Suas ações para com os seres humanos são altamente benéficas, auxiliadoras e produtivas para aqueles que fazem uso adequado de seu livre-arbítrio e que, com retidão, se portam de maneira condigna para com os princípios e padrões morais e religiosos, seja em relação a si mesmo, seja em relação ao meio ambiente em que vive.
Recordando uma frase citada: “(…) Isto acontece por que algumas pessoas erroneamente possuem a convicção que Eṣu é o opositor Satanás” e que, além disso, o que faz com que os sacerdotes sejam bons ou maus não é o simples fato de administrar o àṣẹ, e sim a forma que deliberadamente usam este àṣẹ, podemos dizer que isto é uma questão humana de caráter, e nada tem a ver com o poder divino do Àṣẹ. O que podemos dizer de Èṣù, que recebeu e administra a cópia do próprio Àṣẹ de Olódùmarè? Èṣù é igualmente neutro como o próprio Àṣẹ, por isso é o guardião do Àṣẹ.
Como Òdàrà, ele recebe, como Ẹlégbára, faz acontecer, e como Òjíṣé. conduz o retorno. Tudo isso é “Èṣù – Olódùmarè assim determinou.” (Abimbola, 1975, p. 3) Será que ele é tão terrível e mau quanto querem dele fazer? Como ele pode ser tão temível se é tão neutro como o Àṣẹ? Quando narramos o Odù Iwori-Ofun (Bascom, 1969, pp. 310-311), vimos que simplesmente Èṣù cumpriu seus desígnios de forma imparcial.
As explanações aqui realizada efetivamente enalteceram Èṣù, porém, cabe tecer algumas considerações sobre a absurda questão, mesmo por sincretismo, de que o Òrìṣà Èṣù seja o diabo das religiões cristãs e/ou o mal absoluto tratado pelas religiões ocidentais, que diferem totalmente dos conceitos da religião dos Òrìṣà (Òrìṣàísmo) , praticada na chamada Yorubaland e nas descendentes da diáspora.
Que fique registrado que a religião dos Òrìṣà, praticada em qualquer parte do mundo, independentemente do nome regional adotado, respeita, mas não reconhece a Bíblia como uma de suas diretrizes sagradas, tampouco o Alcorão e a Torá. Para os Òrìṣàístas, trata-se apenas de livros religiosos, assim como tantos outros.
O Òrìṣàímo oriundo da tradição oral, portanto ágrafa, apesar de já contar com muitos escritos, reconhece apenas a “oralidade” dos Ìtàn-Odù, os Ìtán-Mimó Òòṣà (histórias sagradas dos Òrìṣà) como o único “livro ou fala sagrada” a serem adotadas e que também reconhece os ditames do corpo “literário” do oráculo de Ifá, os Odù Ifá, cujo governo pertence à divindade Òrúnmìlà, portador de imensa sabedoria e conhecido como “Ibìkejì Olódùmarè – a segunda pessoa de Olódùmarè”.
Conceitos religiosos europeus e asiáticos não faziam parte das tradições yorùbá antes das colonizações, nem das religiões dela descendentes na diáspora, tampouco antes dos senhores de escravos imporem aos africanos o catolicismo, entre outras religiões.
As formas deturpadas, aculturadas e sincréticas que impuseram e continuam a se impor à religião, nos dias de hoje, foram e ainda o são, os maus frutos decorrentes do processo da escravatura nas Américas e das colonizações europeias impostas a povos africanos. (Conferir em: “Os Clérigos Nativos Yorùbá.“)
Conceitos cristãos como os de alma, céu, inferno e purgatório encontraram terreno fértil para se propagar nas já contaminadas tradições yorùbá e de suas descendentes, seja por missionários, seja por agentes governamentais e seja por autores pertencentes a outras culturas e/ou crenças que registraram as tradições, os costumes e religião dos yorùbá, escritos e interpretados pela ótica do colonizador e/ou opressor. E o pior, os registros decorrentes dessas interpretações (que até hoje continuam) criaram “falsas” tradições, que se tornaram “verdades literárias inquestionáveis” e vitimam a religião yorùbá até hoje. (Conferir em: Dos Yorùbá ao Candomblé Kétu – Os Autores)
Um fato muito importante e que deveria ser totalmente condenável é que sempre que se estuda ou se faz pesquisa no campo das religiões comparadas, os parâmetros e os referenciais são sempre os do cristianismo, islamismo e outras religiões aplicados à religião tradicional dos yorùbá. A recíproca, infelizmente, nunca é verdadeira, pois, se assim o fosse, teríamos inúmeras e novas variáveis a serem avaliadas, para o bem da religião tradicional yorùbá e de suas descendentes.”
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Fonte: Wikipedia
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